Nascido no 28º de Gélido de 1.460 I.J., Myslik é filho de Rafko e Slavojka, um casal renomado de escultores da Aldeia de Brvar, uma pequena comunidade montanhesa da Ilha Rasa. Entre os altinos das pedras, a arte da escultura é uma profissão altamente respeitada, e os seis filhos do casal eram esperados a trilhar o mesmo caminho. Quatro irmãs e um irmão honraram essa tradição. Myslik, o caçula, foi a exceção.
Desde cedo, mostrava-se dividido entre o peso da tradição e o chamado de sua própria liberdade. Seu espírito competitivo e irrequieto entrava em choque com a mentalidade da comunidade, marcada pela dedicação integral ao coletivo. Rejeitando o ofício da escultura, acabou sendo visto como um estranho dentro de sua própria casa. Foi então que encontrou um mestre inesperado: Gorše, um dos últimos gigantes das pedras ainda vivos na Ilha Rasa, que reconheceu no jovem altino uma chama diferente. Sob sua tutela, Myslik aprendeu a disciplina da luta corporal, o controle da mente e a harmonia com o próprio corpo, tornando-se mais próximo das montanhas selvagens do que das pedras entalhadas.
Em suas explorações secretas, acabou conhecendo bem a região entre sua aldeia e a Vila de Jur, familiarizando-se com as trilhas e servindo como guia para viajantes e mercadores. Mas o destino lhe foi cruel. No outono de 1.498 I.J., em sua ânsia pelo novo, auxiliou desconhecidos a trilhar passagens perigosas próximas à sua aldeia que, dias depois, tentaram invadir Brvar revelando-se como membros da Guarda Governamental da Ilha Rasa. Embora os inimigos tenham sido derrotados, Myslik se viu consumido pela vergonha de ter colocado sua aldeia em risco. Fiel às tradições de seu povo, aceitou o exílio sugerido pelos glave da comunidade como penitência.
Buscando um novo lar, foi acolhido em Jur por Yeva, que o recebeu como a um filho e tomou-o como aprendiz em sua sapataria. Dividido entre as raízes que deixou para trás e a liberdade que sempre buscou, Myslik encontrou ali um novo caminho, capaz de honrar tanto a herança da pedra quanto o chamado de seu próprio espírito.